As concessões de última hora no projeto de lei
complementar que regulamenta a reforma tributária farão o Brasil ter a maior
alíquota de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) do planeta. O futuro IVA será de
28,55%, superando a Hungria, país que atualmente cobra 27% e lidera a cobrança
desse tipo de tributo. Aprovada pelo Senado na quinta-feira (12), a proposta
voltará a Câmara dos Deputados.
Apenas a inclusão do setor de saneamento na alíquota
reduzida em 60% elevará a alíquota em 0,38 ponto percentual. Apresentado pelo
relator da reforma tributária no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), o cálculo de
28,55% é preliminar. O número poderá subir após o secretário extraordinário da
Reforma Tributária no Ministério da Fazenda, Bernard Appy, apresentar os
cálculos definitivos.
“O governo está satisfeito com a aprovação do PLP
68, mas sempre ressaltando que o governo preferiria que houvesse menos
exceções, mas isso faz parte da construção política”, afirmou Appy após o fim
da votação no Senado.
O texto aprovado pela Câmara dos Deputados previa
alíquota padrão de 27,97%, que superava a da Hungria. A tramitação no Senado
elevou a alíquota em 0,58 ponto. Isso ocorre porque, ao dar tratamentos
especiais para determinados setores da economia, os demais segmentos deverão
pagar alíquotas mais altas para que o governo arrecade o mesmo.
Os cálculos foram realizados com base na premissa da
reforma de não elevar a carga tributária (peso dos tributos sobre a economia).
Para que a arrecadação dos tributos sobre o consumo continue em 12,45% do
Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e dos serviços produzidos), a soma
das alíquotas da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre
Bens e Serviços (IBS) deverá ficar na faixa estipulada pelo estudo.
Além do setor de água e esgoto, o Senado incluiu
serviços funerários, medicamentos oncológicos e de doenças raras, remédios de
manipulação e fraldas nas alíquotas reduzidas em 60%.
Outros benefícios foram a ampliação do cashback,
devolução parcial de tributos para a população mais pobre, para serviços de
telecomunicações, a ampliação de descontos para o setor imobiliário e a criação
de uma faixa de isenção de IVA para aluguéis.
Sonegação
O relator da reforma tributária no Senado, Eduardo
Braga (MDB-AM), argumenta que a alíquota efetiva pode não chegar a esse valor.
Isso porque o novo sistema tributário reduzirá “brutalmente” a sonegação de
impostos e as contestações na Justiça. Caso a evasão fiscal diminua e o governo
recupere parte da arrecadação perdida por décadas, o impacto das exceções
incluídas pelos parlamentares será diluído, abrindo espaço para uma alíquota
mais baixa.
“Eu estou convencido de que as alíquotas provarão
que nós teremos uma alíquota-padrão menor do que nós estamos imaginando”, disse
o senador após o fim da votação.
Braga argumenta que a tecnologia das notas fiscais
eletrônicas, que reduzem fraudes, e a queda da informalidade após um sistema
tributário mais funcional movimentarão a economia, elevando a arrecadação do
governo e diminuindo a alíquota padrão.
Trava
Em tese, a alíquota padrão vigorará até 2031,
devendo cair para 26,5% a partir de 2032. O texto aprovado pelo Senado definiu
um prazo de 90 dias a partir de dezembro de 2030 para que o governo envie ao
Congresso um projeto de lei complementar que reduza incentivos fiscais, caso a
alíquota padrão de referência do Imposto sobre Valor Adicionado fique superior
a 26,5%. Dessa forma, o texto terá de ser enviado até o fim de março de 2031.
A versão anterior, aprovada pela Câmara, não
estabelecia prazo para o envio. O governo poderia mandar o texto ao Congresso a
qualquer momento de 2031, para que as mudanças entrassem em vigor em 2032,
seguindo o princípio da anualidade, segundo o qual aumentos de impostos só
podem valer no ano seguinte à sanção da lei.
Segundo a emenda constitucional da reforma
tributária sobre o consumo, haverá uma trava sobre a carga tributária (peso dos
impostos sobre a economia). Em troca, a cada cinco anos, o governo avaliará os
efeitos dos incentivos fiscais, podendo reverter as medidas que não trouxerem
resultados concretos sobre a economia. Durante a tramitação final do projeto de
lei complementar, a Câmara enrijeceu a trava, estabelecendo a alíquota máxima
de 26,5% para o IVA.
A ideia de limitar a carga tributária em troca da
revisão dos incentivos fiscais foi estabelecida por Braga durante a tramitação
da emenda constitucional da reforma tributária no Senado, também relatada por
ele. “Esta não é a reforma definitiva. Como foi dito aqui antes, na Emenda
Constitucional 132, nós estabelecemos a obrigatoriedade das revisões dos
regimes específicos, dos benefícios fiscais. Nós teremos, periodicamente,
revisão sobre esse texto para que possamos ir aperfeiçoando, melhorando”, disse
o Senador nesta semana, durante a leitura do relatório.
A primeira avaliação quinquenal será feita em 2031,
com base nos dados de 2030. A partir daí, as demais avaliações deverão ocorrer
a cada cinco anos. Nas últimas semanas, Braga e o Ministério da Fazenda
discutiram medidas para tornar a trava mais efetiva, mas a principal mudança do
relator foi a inclusão do prazo para envio do projeto de lei ao Congresso.
(Agência Brasil)
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