segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Cearense de 19 anos que detectou 25 asteroides entra para lista da Forbes Under 30

 


Aos 19 anos, a cearense Maria Larissa Pereira Paiva acumula alguns títulos e conquistas: é a primeira astronauta análoga do Estado (termo usado para se referir a pessoas que realizam simulações de missões espaciais sem sair da Terra), é embaixadora do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e no ano passado entrou para a lista da Forbes Under 30.

A lista, publicada pela revista Forbes no final de 2024, destaca jovens empreendedores, inovadores e líderes de destaque com menos de 30 anos de idade. Larissa, também conhecida como Larittrix, foi destaque na categoria Ciência e Educação após anos de dedicação aos estudos de astronomia.

Natural de Pires Ferreira, no Sertão de Sobral, a jovem conta que cresceu sem acesso a livros e cursos especializados em astronomia, mas a curiosidade a impulsionou em busca de respostas para perguntas que na sua vizinhança pareciam não ter explicações.

Como tudo começou

Foi olhando para o céu que Larissa começou a se interessar por astronomia. Aos 8 anos, a cearense encontrou a constelação Três Marias durante suas observações e, sem saber que essa era o nome das estrelas, questionou sua avó sobre o nome dos astros. “Aquilo acendeu um desejo dentro de mim: ‘Se ninguém sabe, então eu mesma vou descobrir’”, relembra. 

Apesar do interesse, a jovem conta que o acesso a materiais sobre astronomia na cidade era limitado. Somente aos 13 anos, veio uma oportunidade de aprender mais sobre o assunto: Larissa, pela primeira vez, teve acesso à internet em uma lan house.

“Lembro da sensação de poder buscar qualquer coisa no Google e finalmente encontrar respostas. A partir dali, minha jornada foi autodidata, baseada em artigos, vídeos e fóruns e cursos online”, relata. 

Conquistas na astronomia

Ainda na adolescência, Larissa conquistou seus primeiros prêmios na astronomia. Aos 15 anos, a jovem conheceu as olimpíadas científicas e, mesmo sem acesso a cursos e professores especializados, foi se destacando nas competições.

"Aprendi por materiais gratuitos e entrei em competições como a OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia) e a MOBFOG (Mostra Brasileira de Foguetes)", ressalta. Foram 20 premiações olímpicas durante esse período. A cearense afirma que por meio dessas iniciativas veio outras oportunidades.

“Isso me abriu portas para programas de ciência cidadã, onde detectei meus primeiros asteroides no Asteroid Hunt (NASA/MCTI/IASC) e analisei galáxias para o Observatório Nacional do Japão”, conta. Por meio do programa, voluntários analisam imagens do espaço para identificar corpos celestes ainda não catalogados.

Larissa conseguiu detectar 25 asteroides através do sistema. “Esse trabalho é fundamental porque ajuda a mapear asteroides que podem representar riscos para a Terra ou que podem ser alvos de futuros estudos espaciais. Contribuir para esse projeto foi uma experiência transformadora, pois percebi que mesmo sem ter um telescópio ou um laboratório, eu podia fazer ciência de impacto global”, ressalta.

Ela também foi responsável pela análise de 2 mil galáxias por meio do Galaxy Cruise, do Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ). “Nesse projeto, ajudei a classificar galáxias distantes com base em sua forma e estrutura. Esses dados são essenciais para que os astrônomos entendam como o universo evolui ao longo do tempo”, explica.

“Essas experiências me mostraram que a ciência não tem barreiras — qualquer pessoa com um computador e vontade de aprender pode descobrir um asteroide ou ajudar a entender o cosmos. Esse é o impacto da ciência cidadã, e é por isso que incentivo tantos jovens a participarem”, reforça.

Em 2024, a cearense recebeu o título de Embaixadora da Popularização da Ciência, concedido pelo POP Ciência, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Fui convidada para uma cerimônia oficial e homenageada pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e pela ministra Luciana Santos. Foi um momento emocionante, pois ali percebi que o trabalho que comecei sozinha, estudando astronomia em uma lan house, agora tinha reconhecimento nacional”, declara. “Ser embaixadora não é apenas um título, mas uma responsabilidade. Significa que preciso continuar lutando para que mais jovens tenham acesso à ciência e educação de qualidade”, acrescenta.

Influência nas redes

“Ao longo dessa trajetória, percebi que meu papel não era apenas aprender, mas também ensinar, inspirar e abrir portas para que mais jovens pudessem ter acesso à ciência”, afirma Larissa. Hoje, ela compartilha seus conhecimentos com mais de 14 mil seguidores no Instagram e acredita que as redes sociais são uma extensão do meu trabalho como divulgadora científica.

"A ciência precisa ser acessível, divertida e próxima da realidade dos jovens, e uso minhas plataformas para mostrar exatamente isso", declara.

Na internet, a jovem é conhecida como Larittrix, que nasceu da fusão entre Lari, de Larissa, e Bellatrix, uma das estrelas mais brilhantes da constelação de Órion. "Conforme fui estudando mais, descobri que Bellatrix significava 'guerreira' em latim. De tanto eu falar sobre ela, me apelidaram, e aí pegou", conta.

Em seu perfil, Larissa cria conteúdos que vão desde explicações sobre astronomia e ciência espacial até oportunidades acadêmicas, bolsas de estudo e dicas para olimpíadas científicas. “Mais do que falar de ciência, eu mostro minha própria trajetória — minhas dificuldades, conquistas e aprendizados — para que outros jovens se vejam nela e percebam que também podem trilhar esse caminho”, destaca. E para tornar o processo divertido, a cearense aposta na mistura da ciência com cultura pop e memes.

Planos para o futuro

Com tantas conquistas no currículo, Larissa não quer parar por aí. A jovem deseja aprofundar seus estudos em astronomia e astrobiologia, focando em exoplanetas e formação estelar. "Quero estudar no exterior e contribuir para pesquisas internacionais nessa área", revela.

Larissa também tem planos para contribuir ainda mais na popularização da ciência:

  • Criar o Instituto Larittrix de Educação Cidadã;
  • Desenvolver um programa nacional de clubes científicos em escolas públicas.

G1/CE

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