Aos 19 anos, a cearense Maria Larissa
Pereira Paiva acumula alguns títulos e conquistas: é a primeira
astronauta análoga do Estado (termo usado para se referir a pessoas que
realizam simulações de missões espaciais sem sair da Terra), é embaixadora do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e no ano passado entrou
para a lista da Forbes Under 30.
A lista, publicada pela revista Forbes no final de
2024, destaca jovens empreendedores, inovadores e líderes de destaque com menos
de 30 anos de idade. Larissa, também conhecida como Larittrix, foi destaque na
categoria Ciência e Educação após anos de dedicação aos
estudos de astronomia.
Natural de Pires Ferreira,
no Sertão de Sobral, a jovem conta que cresceu sem acesso a livros e cursos
especializados em astronomia, mas a curiosidade a impulsionou em busca de
respostas para perguntas que na sua vizinhança pareciam não ter explicações.
Como tudo começou
Foi olhando para o céu que Larissa começou a se
interessar por astronomia. Aos 8 anos, a cearense encontrou a constelação Três
Marias durante suas observações e, sem saber que essa era o nome das
estrelas, questionou sua avó sobre o nome dos astros. “Aquilo acendeu um desejo
dentro de mim: ‘Se ninguém sabe, então eu mesma vou descobrir’”,
relembra.
Apesar do interesse, a jovem conta que o acesso a
materiais sobre astronomia na cidade era limitado. Somente aos 13 anos, veio
uma oportunidade de aprender mais sobre o assunto: Larissa, pela primeira vez,
teve acesso à internet em uma lan house.
“Lembro da sensação de poder buscar qualquer coisa
no Google e finalmente encontrar respostas. A partir dali, minha jornada foi
autodidata, baseada em artigos, vídeos e fóruns e cursos online”, relata.
Conquistas na astronomia
Ainda na adolescência, Larissa conquistou seus
primeiros prêmios na astronomia. Aos 15 anos, a jovem conheceu as olimpíadas
científicas e, mesmo sem acesso a cursos e professores especializados,
foi se destacando nas competições.
"Aprendi por materiais gratuitos e
entrei em competições como a OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia) e a
MOBFOG (Mostra Brasileira de Foguetes)", ressalta. Foram 20
premiações olímpicas durante esse período. A cearense afirma que por
meio dessas iniciativas veio outras oportunidades.
“Isso me abriu portas para programas de ciência
cidadã, onde detectei meus primeiros asteroides no Asteroid Hunt (NASA/MCTI/IASC)
e analisei galáxias para o Observatório Nacional do Japão”, conta. Por meio do
programa, voluntários analisam imagens do espaço para identificar corpos
celestes ainda não catalogados.
Larissa conseguiu detectar 25 asteroides através
do sistema. “Esse trabalho é fundamental porque ajuda a mapear asteroides que
podem representar riscos para a Terra ou que podem ser alvos de futuros estudos
espaciais. Contribuir para esse projeto foi uma experiência transformadora,
pois percebi que mesmo sem ter um telescópio ou um laboratório, eu podia fazer
ciência de impacto global”, ressalta.
Ela também foi responsável pela análise de 2
mil galáxias por meio do Galaxy Cruise, do Observatório Astronômico
Nacional do Japão (NAOJ). “Nesse projeto, ajudei a classificar galáxias
distantes com base em sua forma e estrutura. Esses dados são essenciais para
que os astrônomos entendam como o universo evolui ao longo do tempo”, explica.
“Essas experiências me mostraram que a ciência não
tem barreiras — qualquer pessoa com um computador e vontade de aprender pode
descobrir um asteroide ou ajudar a entender o cosmos. Esse é o impacto da
ciência cidadã, e é por isso que incentivo tantos jovens a participarem”,
reforça.
Em 2024, a cearense recebeu o título de Embaixadora
da Popularização da Ciência, concedido pelo POP Ciência, do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Fui convidada para uma cerimônia
oficial e homenageada pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
e pela ministra Luciana Santos. Foi um momento emocionante, pois ali percebi
que o trabalho que comecei sozinha, estudando astronomia em uma lan house,
agora tinha reconhecimento nacional”, declara. “Ser embaixadora não é apenas um
título, mas uma responsabilidade. Significa que preciso continuar
lutando para que mais jovens tenham acesso à ciência e educação de qualidade”,
acrescenta.
Influência nas redes
“Ao longo dessa trajetória, percebi que meu papel
não era apenas aprender, mas também ensinar, inspirar e abrir portas para que
mais jovens pudessem ter acesso à ciência”, afirma Larissa. Hoje, ela
compartilha seus conhecimentos com mais de 14 mil seguidores no
Instagram e acredita que as redes sociais são uma extensão do meu trabalho como
divulgadora científica.
"A ciência precisa ser acessível, divertida e
próxima da realidade dos jovens, e uso minhas plataformas para mostrar
exatamente isso", declara.
Na internet, a jovem é conhecida como Larittrix,
que nasceu da fusão entre Lari, de Larissa, e Bellatrix, uma das estrelas mais
brilhantes da constelação de Órion. "Conforme fui estudando mais, descobri
que Bellatrix significava 'guerreira' em latim. De tanto eu falar sobre ela, me
apelidaram, e aí pegou", conta.
Em seu perfil, Larissa cria conteúdos que vão desde
explicações sobre astronomia e ciência espacial até oportunidades acadêmicas,
bolsas de estudo e dicas para olimpíadas científicas. “Mais do que falar de
ciência, eu mostro minha própria trajetória — minhas dificuldades, conquistas e
aprendizados — para que outros jovens se vejam nela e percebam que também podem
trilhar esse caminho”, destaca. E para tornar o processo divertido, a cearense
aposta na mistura da ciência com cultura pop e memes.
Planos para o futuro
Com tantas conquistas no currículo, Larissa não quer
parar por aí. A jovem deseja aprofundar seus estudos em astronomia e
astrobiologia, focando em exoplanetas e formação estelar. "Quero estudar
no exterior e contribuir para pesquisas internacionais nessa área",
revela.
Larissa também tem planos para contribuir ainda mais
na popularização da ciência:
- Criar
o Instituto Larittrix de Educação Cidadã;
- Desenvolver
um programa nacional de clubes científicos em escolas públicas.
G1/CE
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